Histórico
A Jornada Pioneira da Ciência da Computação na Universidade Federal do Ceará
A história do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC) é uma narrativa de pioneirismo, adaptação e excelência, intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da tecnologia da informação no Brasil. Desde sua concepção em meados da década de 1970, o curso não apenas formou gerações de profissionais qualificados, mas também se estabeleceu como um polo fundamental de pesquisa e inovação para o Ceará e para o país.
O Contexto Nacional e a Gênese do Curso
No início dos anos 1970, o Brasil vivia um momento de efervescência no campo da tecnologia. A primeira fase da informática no país (1958-1975) foi marcada pela forte dependência de tecnologia importada, principalmente dos Estados Unidos. Os grandes computadores, ou mainframes, eram restritos a grandes empresas, órgãos governamentais e universidades [3]. Contudo, um movimento crescente nos meios científicos e militares buscava maior autonomia tecnológica.
Nesse cenário, em 1972, foi criada a Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico (Capre) para delinear uma política nacional para o setor. Paralelamente, as universidades começavam a desenvolver suas próprias competências, com a USP construindo o primeiro computador nacional, o “Patinho Feio”, em 1972 [3].
Foi nesse contexto de busca por soberania tecnológica que o Ministério da Educação autorizou, em 1974, a criação de três cursos superiores na área de computação em todo o país. A Universidade Federal do Ceará foi contemplada com um deles, o único na Região Nordeste, marcando o início de uma trajetória pioneira [1]. Um ano antes, em 1973, a própria UFC havia passado por uma reestruturação com a criação do Centro de Ciências, que unificou os Institutos de Matemática, Física, Química, Geociências e Biologia, formando o ambiente acadêmico que abrigaria o novo curso [4].
Os Primeiros Passos: O Tecnólogo em Processamento de Dados
O curso teve seu início oficial em 1975, sob o nome de Curso de Graduação em Tecnologia de Processamento de Dados, instituído pela Resolução Nº. 311/CONSUNI [1]. Com duração de três anos (seis semestres), o curso foi projetado para ser de curta duração, com o objetivo de suprir a crescente e urgente demanda do mercado por profissionais capazes de operar os novos sistemas computacionais que se difundiam rapidamente pelo país.
O reconhecimento oficial pelo governo federal veio em 2 de outubro de 1978, através do Decreto-Lei Nº. 82.353, consolidando a importância e a validade da formação oferecida [1]. Este curso foi, de fato, o primeiro na área de Computação em todo o estado do Ceará e um dos primeiros do Brasil, colocando a UFC na vanguarda do ensino de tecnologia.
A Transformação em Bacharelado e a Consolidação Acadêmica
A década de 1980 trouxe novas realidades para a informática brasileira, com o início da segunda fase de seu desenvolvimento, caracterizada pelo crescimento de uma indústria nacional impulsionada por políticas de reserva de mercado [3]. Reconhecendo a necessidade de formar um profissional com uma base teórica e científica mais robusta, a UFC promoveu uma profunda reestruturação curricular em 1986.
A carga horária foi elevada para 202 créditos, estendendo a duração do curso para quatro anos. A nova matriz curricular incluiu, de forma inédita, disciplinas de formação básica em Matemática e Física, além de disciplinas optativas, permitindo maior flexibilidade e aprofundamento aos estudantes. Com essa mudança, o curso deixou de formar tecnólogos para titular bacharéis [1].
A formalização dessa transformação ocorreu em 6 de novembro de 1987, quando o Conselho Universitário (CONSUNI) aprovou a mudança de nome para Bacharelado em Computação. A primeira turma de bacharéis colou grau ao final de 1989 [1]. A Tabela a seguir ilustra os principais eventos que marcam a história do curso de Ciência da Computação da UFC.
| Ano | Evento | Detalhes |
| 1975 | Início do Curso | Tecnologia de Processamento de Dados (3 anos) |
| 1978 | Reconhecimento Federal | Decreto-Lei Nº. 82.353 |
| 1986 | Reforma Curricular | Aumento da duração para 4 anos |
| 1987 | Mudança de Nome | Bacharelado em Computação |
| 1990 | Criação do Departamento | Instalação do Departamento de Computação (DC) |
| 1992 | Chegada da Internet | O LIA/DC sedia o primeiro ponto da RNP no Ceará |
| 1995 | Criação do Mestrado | Início da Pós-Graduação em Ciência da Computação |
| 2005 | Criação do Doutorado | Expansão da Pós-Graduação |
| 2015 | Nova Mudança de Nome | Bacharelado em Ciência da Computação |
A consolidação acadêmica foi reforçada com a criação do Departamento de Computação (DC) em 1990, vinculado ao Centro de Ciências [2]. Dois anos depois, em 1992, o departamento foi protagonista de um marco histórico para todo o estado: o Laboratório de Inteligência Artificial (LIA) sediou o ponto de entrada da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), trazendo a conexão com a Internet para a UFC e para o Ceará [2].
Expansão, Pesquisa e os Dias Atuais
As décadas seguintes foram de grande expansão. A Pós-Graduação foi iniciada com o Mestrado em Ciência da Computação em 1995, seguido pelo Doutorado em 2005. Ambos os cursos consolidaram a UFC como um centro de excelência, obtendo conceito 5 na avaliação da CAPES [2].
Laboratórios de pesquisa de ponta foram criados, como o Grupo de Redes de Computadores, Engenharia de Software e Sistemas (GREAT) e o Laboratório de Sistemas e Banco de Dados (LSBD), desenvolvendo projetos em parceria com gigantes da tecnologia como Petrobras, Lenovo, HP, LG e Samsung [2].
O currículo da graduação continuou a evoluir, com reformulações em 1999 e, mais notavelmente, em 2015. Nesta última, o curso foi novamente renomeado, passando a se chamar Bacharelado em Ciência da Computação, alinhando-se às diretrizes curriculares nacionais do MEC [1]. A mais recente atualização curricular ocorreu em 2023, para se adequar às novas exigências de curricularização da extensão e para modernizar a oferta de disciplinas optativas.
Hoje, o curso de Bacharelado em Ciência da Computação da UFC, sediado no Campus do Pici, oferece 60 vagas anuais em período integral, com uma carga horária de 3.200 horas. Sua trajetória, de um curso tecnológico emergencial a um bacharelado de excelência com pesquisa de ponta, reflete a própria evolução da computação no Brasil e reafirma o papel central da Universidade Federal do Ceará na formação de líderes e na produção de conhecimento para a sociedade.
Ex-Alunos Ilustres do Curso de Ciência da Computação da UFC
A Universidade Federal do Ceará (UFC) tem formado, ao longo de suas quase cinco décadas de ensino em Computação, profissionais que se destacaram nacional e internacionalmente em diversas áreas. A seguir, listamos alguns ex-estudantes do curso de Ciência da Computação que ocupam ou ocuparam posições de prestígio na academia, indústria e pesquisa.
Custódio Luís Silva de Almeida
Custódio Luís Silva de Almeida é o atual Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), exercendo o mandato para o quadriênio 2023-2027. Sua nomeação, assinada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e publicada no Diário Oficial da União em 3 de agosto de 2023, representa o culminar de uma longa e dedicada carreira dentro da própria instituição, onde atua como professor desde 1993. Com uma trajetória acadêmica notavelmente interdisciplinar, Custódio Almeida possui uma formação que transita entre as ciências exatas e as humanidades. Ele é graduado em Computação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Posteriormente, aprofundou seus estudos com um mestrado em Sociologia pela UFC e um doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Davi Romero de Vasconcelos
Atualmente, ocupa o cargo de Pró-Reitor de Graduação da Universidade Federal do Ceará. Possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Ceará (2000), mestrado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro (2003) e doutorado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro (2007). Foi tutor do Programa de Educação Tutorial (PET-UFC) do Curso de Sistemas de Informação. Foi Coordenador do Curso de Sistemas de Informação da UFC (2007-2009) em Quixadá e foi Coordenador de Programas Acadêmicos e Vice-Diretor do Campus da UFC em Quixadá (2009-2011) e Diretor do Campus da UFC em Quixadá (2011-2019). Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Teoria da Computação. Coordenou o Projeto Governo Digital do Estado do Ceará, financiado pelo Programa Cientista-Chefe/FUNCAP.
Juliana Freire
Juliana Freire graduou-se em Ciências da Computação pela UFC em 1991 e construiu uma carreira de destaque internacional. Atualmente, é professora de Ciências da Computação da Escola Politécnica de Engenharia de Nova York. Seu trabalho ganhou reconhecimento mundial pelo desenvolvimento de uma ferramenta de busca para a Deep Web (Internet profunda), sistema que foi destaque no jornal The New York Times. Juliana trabalha em colaboração com outro ex-aluno da UFC, Cláudio Silva, em projetos de visualização de dados e computação científica.
Referência: Notícia UFC – Ex-aluno da UFC ganha prêmio internacional
Vasco Furtado
Vasco Furtado é atualmente Coordenador do Laboratório de Ciências dos Dados e Inteligência Artificial da Universidade de Fortaleza, onde leciona há mais de 30 anos. Ele fez seu doutorado (1997) na Universidade de Aix-Marseille III, França e pós-doutorado (2007) no Laboratório de Sistemas de Conhecimento em Stanford, Califórnia, EUA. Furtado já escreveu mais de 150 artigos científicos em computação com ênfase em Inteligência Artificial. Além da experiência acadêmica, tem larga experiência no setor público onde é analista de negócios da Empresa de Tecnologia da Informação do Estado do Ceará. Atuou como Diretor de Tecnologia da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará (1997-2004) e, mais recentemente (2013-2016), como vice-presidente e depois presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (CITINOVA). Foi secretário adjunto de planejamento, orçamento e gestão da Prefeitura de Fortaleza (2017-2018). É cientista-chefe do Tribunal de Justiça e da Procuradoria-Geral do Estado do Ceará. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ. Vasco Furtado foi estudante do curso de Processamento de Dados da UFC no período de 1983 a 1986.
Cláudia Linhares Sales
Possui mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990) e doutorado em Informatique – Recherche Operationnelle – Université de Grenoble I (Scientifique Et Medicale – Joseph Fourier) (1996). Fez pós-doutorado no INRIA/Sophia-Antipolis, França, em 2006/2007 e na Simon Fraser University, em Vancouver, no Canadá, em 2015/2016. É professora titular aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ocupou o cargo de Diretora Científica da FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) em 2010-2011 e 2012-2014. Tem experiência na área de Ciência da Computação. Coordenou a Comissão Especial e o Grupo de Interesse de Algoritmos e Teoria dos Grafos da Comissão Especial de Algoritmos, Combinatória e Otimização da SBC (Sociedade Brasileira de Computação) entre 2015 e 2019. Participou de Comitês de Avaliação Trienal e Quadrienal da CAPES. Foi Secretária Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Biênio 2017-2019. Foi membro da Comissão de Direitos Humanos da UFC entre 2018 e 2020, Secretária da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Diretoria da SBPC), gestão 2019-2021 e Secretária-Geral da SBPC nas gestões 2021-2023 e 2023-2025. Foi Membro do Comitê de Assessoramento do CNPq, na área de Ciência da Computação entre 2020 e 2022. Foi Conselheira do Museu Seara da Ciência da UFC. Atualmente, é membro do Conselho de Estudos Avançados da UFC e do Conselho da SBPC (2025-2029).
Esta lista não é exaustiva e representa apenas uma amostra dos ex-alunos ilustres formados pela UFC na área de Computação. Ao longo de quase 50 anos de história, o curso formou centenas de profissionais que atuam em posições de destaque em universidades públicas brasileiras (UFC, IFCE, UECE, UFMG, Unilab, UFPI, UFRN, UnB, UNICAMP), empresas nacionais e multinacionais (Petrobras, Lenovo, HP, LG, Samsung, Ericsson, Nokia, Motorola) e instituições de pesquisa no Brasil e no exterior.
A trajetória desses profissionais demonstra a excelência da formação oferecida pela UFC e o impacto da instituição no desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil e do mundo.
É importante reconhecer também a valiosa contribuição dos professores que iniciaram o curso de Processamento de Dados em 1975: Tarcísio Pequeno, Maranguape, José Bitú e Araújo.
Referências
[1] Universidade Federal do Ceará. (s.d.). Sobre o Curso – Ciência da Computação. Recuperado de https://cc.ufc.br/pt/sobre-o-curso/
[2] Universidade Federal do Ceará. (2015, 11 de agosto). Departamento de Computação comemora 25 anos nesta sexta-feira (14). Recuperado de https://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2015/7077-departamento-de-computacao-comemora-25-anos-nesta-sexta-feira-14
[3] Retro Player Brazil. (s.d.). História da Informática no Brasil nos Anos 60, 70, 80 e 90. Recuperado de https://retroplayerbrazil.wordpress.com/uma-breve-historia-da-informatica-no-brasil/
[4] Universidade Federal do Ceará. (s.d.). Histórico e Missão – Centro de Ciências. Recuperado de
